sábado, 23 de agosto de 2014

Não somos nada, Não sabemos nada.

Quando escrevi o texto O recomeço, através do Transplante de Medula Óssea, mal sabia o quanto difícil é recomeçar após um óbito, após uma perda.
 Perda da vida, perda dos sonhos, perdas do futuro, daquilo que traçou e não vai trilhar.
Às vezes esquecemos que não somos donos de nada, absolutamente nada. Somos impotentes mediante situações que fogem ao nosso controle. Aí dizemos Deus!!!! Porque??? Não existe resposta que nos satisfaça.
Resposta dos homens, porque a de Deus, de alguma forma, em algum dia, me satisfará.
Pergunto-me sempre o que fizemos de tão errado? Porque já ouvi isso, sobre erros que cometemos e bla bla bla. Sou pai, sou mãe, e Deus é Pai, e ele não faria ninguém sofrer.
Livre arbítrio?
O que acho pior mesmo são as frases de efeitos, os livros de autoajuda, o olhar de piedade. Não há o que dizer, não há o que falar. Precisamos de silêncio.
Um grande silêncio se forma em torno de nós, um torpor, adormecemos em emoções, vivemos em altos e baixos. Ninguém precisa dizer que a vida continua, porque sabemos que sim, todos os dias, todas as horas, só que em câmera lenta, como em um sonho ruim que esperamos acordar.
Sei que não há despertar para esta cachoeira de água gelada que cai sobre nossas cabeças.
É viver um dia de cada vez e esperar, uma espera angustiante, até que um dia quem sabe fique uma doce saudade, o que não acredito, acho que é para sempre um soco no peito, que às vezes somos obrigados a fazer um curativo para os que estão em nossa volta possam também caminhar.
Tudo, absolutamente tudo nos reporta a uma lembrança, e dependendo do lugar onde estamos, somos obrigados a sorrir ou continuar a piada.
Segundo o Frei Pedro Cesário Palma (Pr) As fases do luto são: Choque; Negação; Raiva; Culpa; Tristeza... E eu desconfio que são todas ao mesmo tempo. Mas como ele também diz que quando não podemos mudar o fato ocorrido, devemos encontrar um meio de lidar e aprender com ele, concordo na íntegra. Devemos tentar sim.
A estória com este Frei é um exemplo que Deus falou comigo sim através dele, só que não entendi. A Igreja dos Capuchinhos é próxima ao Hospital N Sra das Graças em Curitiba. Um dia muito angustiada fui para igreja bem antes da missa e este Frei estava na igreja porque ele faria uma apresentação do novo livro após a missa. Mas minha angustia era tanto que não esperei a missa terminar e ao sair para voltar ao hospital ele me convidou a aguardar pelo livro etc. Disse que não podia que tinha que voltar ao UTI e etc., então ele me presenteou com o livro Pedras no Caminho de sua autoria. No caminho para o Hospital abri o livro e o primeiro capítulo é “A morte da pessoa querida”. Fechei o livro como se ele me queimasse as mãos e não olhei mais para nada nele, até que no voo de volta, o mais longo de toda minha vida, Rogério me pediu o livro para ler. Ele continuava na minha bolsa...
Então é aceitar nossa loucura de cada dia e continuar suportando, convivendo e tentando VIVER.