quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Simplesmente Karen







Tenho fotos dela, maravilhosas, hoje preferi estas porque ela estava dizendo: mãezinha quer parar de tirar fotos minha? 




 Não parei, graças a Deus não parei.




Não sei como começar ...



Tenho em mente muitas palavras que se cruzam, tipo um misto de revolta, aceitação, um torpor que se esvai,  dando lugar a uma realidade da qual se pudesse fugiria e tantas outras que se atropelam, escapam mesmo antes de chegar  a formar um pensamento, uma frase.  Então lembro-me que por mais que a aceitação seja difícil, ainda acho que o melhor caminho é buscar, resgatar a minha fé.

"E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram" (Apocalipse 21:4).

Tenho acompanhado vários grupos de mães que como eu estão em luto pela perda de um filho. Não estou sozinha. E se esta dor é parte do processo,  que dor é essa que cravou e não sai,  então vi nos comentários de um destes grupos que temos que nos acostumar e seguir,  aleijadas, sem um membro, é como se perdêssemos as pernas e tivéssemos que aprender a andar de outras formas. 

E é exatamente assim.

Não podemos transformar a vida de nossos familiares num pranto sem fim, afinal nossos filhos, irmãos, nossos pais, maridos, continuam a fazer aniversários, a celebrar todas as datas importantes, portanto temos que nos conceder e conceder a eles o direito de continuar. Continuamos aleijadas, mas um sorriso custará muito pouco mediante a grandeza dos que nos cercam. A família. Pois cada um deles vivem também a sua dor, e juntos ... seguimos.

 Entretanto falar da nossa dor é extrair de dentro de nós o grande pesar que fica e desabafar também é importante, daí a participação nestes grupos, mesmo que só acompanhando ou não, nos faz ver que não estamos sozinhas e que estas entendem, pois o ar que me falta também falta a elas. É a dor que acho não tem nome.

Nunca conseguiremos  superar, mas temos que procurar meios, capacidade para lidar com ela. Neste exato momento, escrevendo, sem me importar com o texto, estou me permitindo extrair um pouquinho de um grito sufocado, de uma angustia dilacerante... Abraço a dor como forma de seguir, de me permitir chorar às vezes.

Tento extrair o que de bom pode existir neste meu processo, e às vezes consigo. Exemplo: outro dia ao olhar álbuns e álbuns de fotos, senti uma felicidade enorme, pois são 10 ao todo. O nascimento, batizado, festas e festas de aniversários, viagens, primeiro e segundo grau, formatura, casamento e percebi  quantos sonhos de garotinha minha filha  realizou e se teve decepções foi também muito feliz.  E assim fiquei feliz por Deus ter permitido esta caminhada. E se teve flores para acompanhá-la para o céu, teve muitas também em todas estas festividades que a fizeram feliz. E assim voltei a querer ter flores, a cultivá-las. Pode ser muito louco, mas é verdade. 

Hoje, infelizmente a dor, a saudade é grande demais, não consigo esquecer este numero 14, revivo tudo e aí é inevitável, mas também estou ciente que ainda não passei pelo primeiro aniversário dela, pelo primeiro dias das mães, natal... Mas não quero contar, quero tanto só lembrar  que ela era muito linda, inteligente e sempre soube o que queria para ela, uma guerreira da vida. E eu, eu gente,  SOU a mãe dela.