domingo, 20 de novembro de 2022

Durante Feliz

 Durante Feliz


Ouvi esta pequena frase aparentemente óbvia, só que não, quando ouvimos com propriedade, acabamos por deixar ir entrando, enraizando em nós este caminho. 

Tenho aprendido muito nestes últimos 08 anos. Acho que uma dor profunda, sem cura, poderia ser suavizada SERVINDO. Então continuei aprendendo que para servir seria preciso estudar, estudar muito e aliar à vivência do dia a dia. E é o que faço. Vou trançando minhas linhas sem receitas, desmanchando meus nós ou acrescentando novos pontos a novos aprendizados.

Aprendemos até nosso último suspiro, já não tenho mais dúvida.

E o Durante Feliz é preciso ter consciência do que está vivendo, é ter fé acreditando que tudo está certo. E para esta consciência é preciso que a Espiritualidade, o Psicológico, o Emocional estejam em sintonia. Não me canso de tropeçar e recomeçar em busca deste tripé.

O Psicológico e o Emocional, pelo menos para mim, ainda está sujeito aos ventos que me tocam, daqueles que me são caros. 

No mundo novo que se apresenta que é a solidão enganosa das telinhas, às vezes nos deixamos levar pela pressa e/ou ansiedade, e esquecemos de perguntar como vai, posso ajudar, etc. É a inexistência da gentileza, do cuidado e tantos outros atos solidários.

Quantas vezes planejamos o que fazer na velhice, pensando assim ser feliz lá, porque isso? Se temos a obrigação de estar bem hoje e até mesmo durante este exato milésimo de segundo...

segunda-feira, 5 de abril de 2021

Precisamos falar sobre a morte


 Os profissionais da saúde  interagem com o processo de morte e morrer na sua atividade profissional, num contexto sócio-histórico negando a morte e assim a maioria ainda se detém  nos aspectos teórico-técnicos. Talvez porque não tiveram uma formação acadêmica onde claramente se vislumbre que a morte está inserida e faz parte do nosso cotidiano.

A importância que nós ocidentais temos, urgentemente de encarar o tema já é claro para boa parte de equipes técnicas do nosso país. Tratar o tema, sem nenhum tabu evitará sofrimento na velhice e em pacientes de doenças graves, porém todos, em qualquer idade podemos morrer, uma vez que não somos imortais. 

Devemos nos preparar, pois assim teremos uma vida mais digna e aproveitar desta existência da melhor forma possível.  A única certeza da morte é a vida!

Porque ainda, a grande maioria diz "não estou preparado para a morte"; porque preparamos tanto para o nascimento com cartazes de bem vindo, festas para tudo e não preparamos para a morte? É certo deixar para a família todas as decisões a serem tomadas? Gostaria de ser cremado? Gostaria de ser intubado, mesmo que isso  te prolongue apenas alguns dias? O que você gostaria que fosse feito na sua finitude? Em caso de estar apto, gostaria que seus órgãos fossem doados?

  Estas decisões cabem a cada individuo e nunca a um familiar que já vai estar abalado com sua perda. Tudo se torna mais sereno quando se sabe o que e como fazer. 

Voê sabia que já existe um documento chamado Testamento Vital? Tome conhecimento. Pesquise! 

Esta ausência de informações pode criar embates desnecessários em um momento que teria de ser calmo, pois os que ficam já vão ter que trabalhar com o luto.

Existem no Brasil muitos médicos que lutam para esta conscientização. E ainda livros que devem ser lidos e que te ajudarão a encarar o tabu da morte e você acabará por descobrir que como ela é inevitável, ela pode ser em paz, e na forma que você escolher.

Sobre este momento, temos que nos lembrar que antes da morte poderá vir uma doença grave. E um simples texto não explicaria todo o contexto, porque tanto da parte do cuidador como de quem esta sendo cuidado, é preciso: empatia, compaixão, reconhecimento, disposição, perdão,  disponibilidade, saber que o paciente estará sempre em um nível superior a nós.. e é no olhar que ele reconhecerá tudo isso, também com muita escuta e com muita presença.

É preciso reconhecer toda a dimensão espiritual do momento, respeitando o sagrado de cada um.

Todas as etapas são importantíssimas tanto para quem esta morrendo quanto para quem enfrentará o processo de luto.

É um pequeno texto para iniciar, alertar para a importância do tema.

Livros: para iniciar

A morte é um dia que vale a pena viver - Ana Claudia Quintana Arantes, (Esta médica/escritora para mim é a maior autoridade que temos hoje no Brasil)

Enquanto eu respirar - Ana Michelle Soares

A roda da vida - Elisabeth Kubler-Ross

Pessoas para seguir

Sem dúvida alguma, as duas escritoras acima

Tom Almeida

Odenício de Melo

...

Uma infinidade de palestras e grupos sobre o assunto estão disponiveis na internete.

O intuito aqui é colaborar com aqueles que ainda não pensaram no assunto.

RUBEM ALVES

A morte e o silêncio


Somente os tolos tentam consolar. Eles não sabem que as palavras de consolo são ofensas à dor da pessoa


Nos breves intervalos em que a chuva parava de cair e os raios de sol se infiltravam pelas nuvens, o arco-íris aparecia fazendo os homens se lembrar da promessa que Deus fizera depois do dilúvio: ele nunca mais permitiria que as águas destruíssem a vida. Mas parece que ele se esquecera. A chuva caia sem parar alagando campos, inundando cidades, derrubando casas, matando gente e bichos.

Ele era um menino de 14 anos, feliz, que gostava de viver. Filho único, morava em Floripa. Como todos os meninos e meninas, ele deveria ir à escola naquele dia, porque a chuva não estava tão forte assim. E andar na chuva é uma arte que dá alegria às crianças.
Chegou a hora do recreio, tempo livre para brincar. A chuva voltou a cair mais forte, com raios e trovões. Havia um lugar abrigado da chuva, uma marquise, construída fazia três semanas. Era uma cobertura de cimento, planejada por engenheiros que sabiam o que estavam fazendo. Sólida. Ele se abrigou sob a marquise para ver a chuva. Mas a marquise, ignorando ferro e cimento, caiu sobre ele, esmagando-o. Agora, no seu lugar, resta uma dor que nenhuma palavra pode conter.
A morte faz calar as palavras. São inúteis. Servem para nada. Somente os tolos tentam consolar. Eles não sabem que as palavras de consolo, brotadas das mais puras intenções, são ofensas à dor da pessoa golpeada pela morte. Porque elas, as palavras de consolo, são ditas no pressuposto de que elas têm poder para diminuir o vazio que a morte deixou. Como se a pessoa que a morte levou não fosse tão importante assim e algumas palavras pudessem diminuir a dor que sua morte deixou.
Mas não há palavra ou poema que possa com as únicas palavras que a morte deixa escritas: "Nunca mais". Nada existe de mais definitivo e mais doloroso que esse "nunca mais...

Bem fizeram os amigos de Jó que o visitaram com o intuito de consolá-lo na sua desgraça. O texto bíblico descreve o que aconteceu:
"Quando eles, de longe, o viram, eles não o reconheceram; e eles levantaram suas vozes e choraram. E eles se assentaram com ele no chão durante sete dias e sete noites, e nenhum deles lhe disse uma palavra sequer, porque eles viram que o seu sofrimento era muito grande" (Job 2.13 ).
Todos os amigos querem diminuir o sofrimento da mãe. Cercam-na com palavras que, pensam eles, trarão algum consolo. Mas que palavra ou poema poderá substituir o seu filho? E a chamam ao telefone para dizer-lhe suas palavras doces e cheias das intenções mais puras. Mas a pureza das intenções não garante a sua sabedoria. E aí, à dor da morte do filho, acrescenta-se uma a outra dor: a mãe é obrigada a ouvir os consoladores delicada e pacientemente, com sorrisos de agradecimento... Mas são tantos os consoladores e eles cansam tanto...
Gestos de consolo, lembro-me de um que me comoveu. Eu vivia em Nova York com a minha família. Aí o pai da minha esposa foi morto num acidente, no Brasil. Ao abrir a porta do apartamento, no chão estava um buquê de flores. Aquele que o trouxera se retirara em silêncio. Não tocara a campainha. Mas deixara um bilhete onde estava escrito: "Não quis perturbar a sua dor..."



segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Escolhas na "última idade"

O Brasil tem 3.200.000 idosos que precisam ser cuidados em suas necessidades básicas,  e destes 100.000 estão em casas de repouso (dados de 2010!). Isto significa que 3.100.000 estão sendo cuidados por familiares.
Porém  a realidade das famílias  tem mudado a cada ano para uma independência quase que total.
Hoje com vários casamentos, quem tem muitas sogras acabam por não cuidar de nenhuma mas acontece que 40% delas só tiveram filhos homens, e estes tem ainda em muitos, enraizados que quem cuida são  mulheres... pois é, pasmem,   é uma realidade e ela tem que ser mudada urgentemente e em alguns casos a mudança é  radical e sofrida.
Outro fator é  que nem todo ser humano nasce para cuidar, uns o fazem espontaneamente outros sofrem, se sentem sobrecarregados  porque não têm  edta aptidão.  Nesta hora é  preciso muita leitura,  cursos, resignação  e fé.  Afinal nossos pais nos ensinaram tudo, a falar, escovar  os dentes, andar,  esportes etc etc  e o que vemos são adultos que se irritam em repetir uma única fala.
Em contra partida as famílias  juntamente com o idoso (se ele ainda tem condição de opinar) ver o que é  melhor para ele.
A solidão  mata muitos deles.
Se a família toda trabalha é  melhor que este  fique num centro p idoso pois terá com quem conversar, jogar,  rir e dançar,  mas é  claro  que existem muitos idosos que não querem isto.
Comecei a escrever isto quando li o número de idosos que dependem de tudo do outro, mas quantos mais estão  sem nenhum problema mas a mercê  de uma solidão  que nem sempre é  o desejo  das famílias.
O que eu sei é: quando EU NÃO mais  puder fazer o mínimo necessário no meu próprio ninho, não tenham dúvida estarei pronta para dividir algumas conversas  com alguém  em algum centro para idoso.   É  isso que quero do fundo do meu coração.

sábado, 1 de dezembro de 2018

Risos e Prantos

Risos,
Prantos, angustia 
que antecede
o riso.
Grande teatro
de nós mesmos.
Na oposição do riso,
a reflexão
das relações,
todas elas,
que assim são chamadas.
Morte/luta/vida,
Contraste de luzes,
Claro/escuro
Noite/dia.
Luta diária.
Melhor seria, se sempre,
o riso risse do pranto!

domingo, 23 de setembro de 2018

APOIO


APOIO

É incrível que, ainda, aos 62 anos, tenho a necessidade de entender algumas palavras do nosso português.
O que vem a ser apoio: o dicionário diz:
apoio
ô/
substantivo masculino
1.   1.
o que serve para amparar, firmar, sustentar (alguém ou algo); sustentáculo.
"sem o a. adequado, o telhado desabou"
2.   2.
auxílio, amparo, ajuda.
"quando faliu, todos os amigos acorreram em seu a."

Continuando a pesquisa fui encontrando:

 apoio moral: fazer com que a pessoa possa enxergar que ela é capaz, incentivar ..

 apoio matricial: remete à compreensão de uma tecnologia de gestão ...

 apoio incondicional: absoluto, total ...

 apoio logístico: aqui daria um livro, se incluíssemos a palavra integrado no final ...
 apoio institucional:  é um aval, recomendação ...

etc...

Quero entender então o que é apoio maternal: o dicionário traz  pouca informação: adj. Próprio, natural de uma mãe, ternura ...

Mas o que tem de blogs, artigos, sites é infinitamente grande. Dos poucos que li, alguns muito complexos, outros baseados em outras culturas (pois é, tipos diferentes de apoios em diferentes culturas), mas achei um muito simples e para o meu entendimento, achei que  tem um pedacinho de mim em cada um dos itens. (Acabei por rir muito de mim mesma)

Quando se trata de Relações Humanas alguns temas daria um bom debate, mas
“Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convém. (1 Cor 6:12)
Neste momento  não da para debater, estou na fase de aceitação ... tentando ...

Resumindo,  para mim amor materno significa a sustentabilidade dos filhos em todos os momentos que se fizerem necessários. Aos bebes, à criança, ao adolescente, ao adulto, o apoio a cada fase. Pude ver que algumas mães deixaram voar na integra da palavra, eu ensinei, mas tenho o defeito no medo de ver asas quebradas, me falta até hoje coragem, fé para me libertar disto. Mas enfim, meio que talvez tarde, ou não, estou aprendendo e me redescobrindo.

O melhor da vida é se redescobrir todos os dias. E ainda melhor não é conhecer o outro, mas conhecer a si mesma. E isto tem acontecido comigo de maneira extraordinária porque é sem medos, sem culpas, sem complexos, sem traumas. Está leve e gostoso.
O melhor que nos pode acontecer é apanhar da vida, é ter aborrecimentos, e até o luto nos ajuda,  e assim ter a dádiva de tirar lições destes acontecimentos, porque é assim que crescemos,  é assim que vamos falando muito prazer a nós mesmos. Sem vitimismos, sem sofrência eterna, sabendo que algumas dores não passam, mas vivendo cada dor e cada alegria no nosso tempo sem deixar exceder. Deixar voar mas sabendo que os pés no chão é que nos dá a base.

 Deus é perfeito, é sábio, é o criador do universo, é benevolente e eu O amo porque o Seu apoio é incondicional.

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Imperfeições Morais

Melhor seria se antes de tudo fizéssemos como Santo Agostinho: 

 “Fazei o que eu fazia quando vivi na Terra: ao fim do dia, interrogava a minha consciência, passava em revista o que havia feito e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para se queixar de mim. Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim precisava de reforma. […]”

Primeiramente precisamos identificar em nos, estas imperfeições, depois supera-las. Mas este processo é só o começo, é um trabalho longo, de recaídas, de fragilidades nunca antes assumidas, é ficar em dúvida, é dobrar joelhos, é não cair em tentações, é

vigiar e orar (Mateus 26:40-41)

Identificando estes comportamentos e atitudes que ferem ou provocam o próximo e principalmente superando, todos os dias, precisamos ainda desenvolver virtudes como benevolência, justiça, paciência, sinceridade, responsabilidade, otimismo, sabedoria, respeito, autoconfiança, desapego, determinação etc., pois ao praticarmos e estando vigilante, seremos tolerante não só com nosso próximo mas para com nos mesmos.  Aliás a nossa vigilância terá que ser 99%,  primeiro, conosco.
Sem renúncias e sacrifícios continuaremos com nossas imperfeições, porque o conhecimento é a chave do progresso individual.

Nota: A diferença do que sou e do que pretendo ser é exatamente a minha luta diária, e no meio deste turbilhão sinto que cresço um pouco a cada dia.















sábado, 10 de dezembro de 2016

Margaret Humphreys

Hoje tive o prazer de conhecer uma mulher, ainda que pelas redes sociais, extraordinária, brilhante e com uma capacidade de doação em função do outro que raramente vemos neste mundo.

Ela é a fundadora do "Child Migrants Trust".

Uma Assistente Social que acaba descobrindo o envio de crianças, após a 2a. Guerra Mundial, para viver na Austrália com outra identidade e sem nenhuma informação sobre suas verdadeiras famílias.
O motivo que levou o Governo Britânico foi simplesmente o custo de manutenção dessas crianças em orfanatos e outros.
Estas crianças eram deixadas na responsabilidade do governo dada a pobreza instalada no pós-guerra. Quando as mães iam buscá-las já não encontravam mais. Aos filhos na faixa de 4 a 14 anos a informação era que seus pais haviam morrido e que eles teriam novas chances com novas famílias e etc. Mas não foi isso que aconteceu, a maioria, geralmente os mais fortes foram mantidos em trabalhos forçados durante quase toda uma vida. Muitas delas ainda vivem e através desta Assistente Social  Margaret Humphreys, reencontram seus pais e outros que só podem visitar seus túmulos.
Esta mulher com o apoio do marido lutou e luta para este reencontro familiar. Teve no inicio pouco ou nenhum apoio de qualquer governo. (Vale a pena se inspirar na sua estória e fazer um pouquinho também)

Infelizmente, tudo isto tem precedentes.

" Segundo fonte da BBC A Grã-Bretanha é o único páis com um histórico prolongado de imigraçao infantil - foram mais de 5 séculos
- Em 1618, 100 crianças foram enviadas de Londres para Richmond, na Virgínia, EUA
- Um total de 130 mil foram enviadas para o Canadá, Nova Zelândia, África do Sul, Zimbábue (antiga Rodésia) e Austrália
- No pós-guerra, 7 mil foram enviadas para a Austrália e 1.300 para a Nova Zelândia, Rodésia e Canadá."

Ainda assim, 

"Enquanto a Austrália se desculpa por 4 décadas de maus tratos em orfanatos,  no Reino Unido, escolas, creches, centros de saúde, hospitais e todo o tipo de profissionais que trabalhem com crianças são obrigados a seguir protocolos rígidos: as regras sobre o que denunciar estão bem definidas, muitas vezes em papéis afixados nas paredes. Ao mínimo sinal de alarme, são chamados os serviços sociais locais." (Fonte: Visão.sapo.pt)

De qualquer forma a estória desta mulher me faz acreditar em pessoas generosas, grandiosas, nobres, enfim,   magnânimas.

Gostei e compartilho.