Quando escrevi o texto O recomeço, através do Transplante de Medula Óssea, mal sabia
o quanto difícil é recomeçar após um óbito, após uma perda.
Perda da vida, perda dos sonhos, perdas do
futuro, daquilo que traçou e não vai trilhar.
Às vezes esquecemos que não somos
donos de nada, absolutamente nada. Somos impotentes mediante situações que
fogem ao nosso controle. Aí dizemos Deus!!!! Porque??? Não existe resposta que
nos satisfaça.
Resposta dos homens, porque a de
Deus, de alguma forma, em algum dia, me satisfará.
Pergunto-me sempre o que fizemos
de tão errado? Porque já ouvi isso, sobre erros que cometemos e bla bla bla.
Sou pai, sou mãe, e Deus é Pai, e ele não faria ninguém sofrer.
Livre arbítrio?
O que acho pior mesmo são as
frases de efeitos, os livros de autoajuda, o olhar de piedade. Não há o que
dizer, não há o que falar. Precisamos de silêncio.
Um grande silêncio se forma em
torno de nós, um torpor, adormecemos em emoções, vivemos em altos e baixos. Ninguém
precisa dizer que a vida continua, porque sabemos que sim, todos os dias, todas
as horas, só que em câmera lenta, como em um sonho ruim que esperamos acordar.
Sei que não há despertar para
esta cachoeira de água gelada que cai sobre nossas cabeças.
É viver um dia de cada vez e
esperar, uma espera angustiante, até que um dia quem sabe fique uma doce
saudade, o que não acredito, acho que é para sempre um soco no peito, que às
vezes somos obrigados a fazer um curativo para os que estão em nossa volta
possam também caminhar.
Tudo, absolutamente tudo nos
reporta a uma lembrança, e dependendo do lugar onde estamos, somos obrigados a
sorrir ou continuar a piada.
Segundo o Frei Pedro Cesário
Palma (Pr) As fases do luto são: Choque; Negação; Raiva; Culpa; Tristeza... E
eu desconfio que são todas ao mesmo tempo. Mas como ele também diz que quando
não podemos mudar o fato ocorrido, devemos encontrar um meio de lidar e
aprender com ele, concordo na íntegra. Devemos tentar sim.
A estória com este Frei é um
exemplo que Deus falou comigo sim através dele, só que não entendi. A Igreja
dos Capuchinhos é próxima ao Hospital N Sra das Graças em Curitiba. Um dia
muito angustiada fui para igreja bem antes da missa e este Frei estava na
igreja porque ele faria uma apresentação do novo livro após a missa. Mas minha
angustia era tanto que não esperei a missa terminar e ao sair para voltar ao
hospital ele me convidou a aguardar pelo livro etc. Disse que não podia que
tinha que voltar ao UTI e etc., então ele me presenteou com o livro Pedras no
Caminho de sua autoria. No caminho para o Hospital abri o livro e o primeiro
capítulo é “A morte da pessoa querida”. Fechei o livro como se ele me queimasse
as mãos e não olhei mais para nada nele, até que no voo de volta, o mais longo
de toda minha vida, Rogério me pediu o livro para ler. Ele continuava na minha
bolsa...
Então é aceitar nossa loucura de
cada dia e continuar suportando, convivendo e tentando VIVER.
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