É um peso imensurável carregar a dor da ausência de uma filha, e é perfeitamente compreensível, pelo menos para mim, que mesmo após onze anos, o tempo pareça ter parado.
A dor de repente se torna palpável novamente, um choque que nos atinge, como se fosse a primeira vez.
É realmente inacreditável como a mente e o coração lidam com o luto, alternando entre a memória viva e a realidade cruel.
E não há palavras que consigam fazer justiça à profundidade dessa dor, é uma saudade que corta, que corrói. É a dor da inversão natural da vida, onde os filhos deveriam enterrar seus pais, e não o contrário.
Esta é uma dor que pode ser sentida como um vazio no peito que nunca se preenche, um espaço que só a presença dela ocupava.
Uma âncora que, por vezes, impede de seguir em frente, puxando para o passado.
Um eco constante da risada, da voz, dos planos que não se concretizaram.
A quebra de um espelho onde se via o futuro, um futuro que agora está com uma peça essencial faltando.
Um amor eterno que, por não poder ser expresso através do toque, se manifesta em lágrimas e em lembranças.
Saber que ela faleceu há 11 anos e sentir que foi ontem é a prova de que o amor é atemporal, e o luto é o preço que pagamos por esse amor profundo.
Não há uma "cura" ou um caminho certo no luto, mas existem formas de honrar a memória dela e cuidar de mim, permitindo que a dor coexista com a vida.
Pensei em realizar com maior intensidade coisas simples, como plantar uma árvore em memória, fazer uma doação, me voluntariar para uma causa que ela apoiava, ou escrever muito sobre ela, ou fazer algo que pudesse transformar a dor em ação. Mas antes que eu me recompusesse, exatamente 1 ano após a perda de minha filha, meu pai também se foi...
Às vezes digo o nome dela em voz alta, porque parece que assim mantenho sua presença viva, porque onze anos não diminuem a importância dela em minha vida.
No dia do nascimento, 03.01.1984, tenho vontade de oferecer um jantar em memória dela, mas não posso.
Tenho mais 2 joias raras na minha vida, e uma delas é a gêmea, que provavelmente, como toda a família, sofre nesta data. Não exteriorizamos esta dor neste dia.
Quanto aos meus projetos, continuaram a ser adiados, pois 2 anos depois de meu pai, minha mãe também se foi... Seguem seus caminhos segundo a vontade de Deus...
Após terapia, resolvi ser gentil comigo mesma. Não me cobro para estar ou parecer bem, não quero que a dor diminua em prazos. Então choro ou fico em silêncio, quando achar que devo. E não importa quantos anos passem!
Agradeço muito à espiritualidade, ao Pilates, à Zumba que me ajudam a manter corpo, alma e conexão com Deus em sintonia.
Então, em uma página no Facebook, criada em 2014, ano em que minha filha partiu, dedico até hoje a sua memória e passei a escrever também no meu blog criado em 2010. Estas escritas que parecem ser superficiais são como um bálsamo em dias angustiantes.
E após o ano de 2018 tenho me dedicado todo o meu tempo a pessoas com doenças que ameaçam a vida. A pessoas que precisam comer, vestir, etc.
Sabiam que a Hanseníase ainda é muiiito presente em nosso meio?
Conheçam o CREDESH - Centro de Referência Nacional em Hanseníase e Dermatologia Sanitária.
Sabiam que crianças, adultos (todas as idades) lutam pela vida com Câncer, Anemias Variadas e outras muiiitas comorbidades?
Conheçam o Grupo Luta Pela Vida, que faz um trabalho maravilhoso.
Conheçam Cuidados Paliativos, Comunidades Compassivas. E VIVA O SUS!
Conheçam a Casa Santa Gemma, e conheçam o “Ditão” e conhecerá GENTE QUE FAZ!
Enfim, não realizei grandes projetos, mas estudei e estudo muito e ajudo no que está ao meu alcance, pois tudo isso é a minha maneira de transformar a dor em ação positiva.
Por isso escrevo, é o meu jeito de colocar para fora uma dor que corrói. Sem ou com pressões emocionais.
Sei que não estou só e Onze anos de saudade significam onze anos de amor inabalável.
Tudo isso, posso chamar de "Luto em Conflito": a dor avassaladora da perda se choca com a necessidade de proteger e celebrar a vida da filha que está presente. A necessidade de não entristecer os meus com minhas dores. A tentativa de transparecer estar feliz. A certeza de que é difícil para todos, mas que o silêncio é maior. O sentimento de que seguir é muito difícil.
Mas entendo que o que eu estou fazendo é um ato imenso de amor e proteção, mas é fundamental, no meu ponto de vista, reconhecer que eu não preciso sofrer em silêncio para sempre, pois a longo prazo, o silêncio pode ser prejudicial a todos, pois impede o luto compartilhado.
Para mim, tentar "transparecer estar feliz" é exaustivo. É como segurar a respiração o dia inteiro. Chega um momento em que essa repressão causa um dano maior.
Quando tentamos esconder o luto, o outro (familiar enlutado) sente que o luto também precisa ser escondido ou que a perda não pode ser lembrada abertamente. Isso isola, fazendo com que carreguemos pesos desnecessários.
O que posso fazer em datas especiais, e ainda não fiz, porque percebo que a maioria prefere o silêncio, não é apenas transparecer felicidade, mas sim integrar a lembrança da minha filha, da minha mãe, do meu pai que se foram, de forma que o amor não seja apagado e o luto seja validado, sem sufocar a alegria da vida, porque o silêncio neste dia separa os momentos, mas JAMAIS o amor.
Brindo com alegria a vida dos que estão aqui, mas brindo com o coração a vida dos que partiram e sou imensamente grata pelos 30, 91 e 89 anos que partilharam conosco.
E assim encontrei uma maneira para transformar o silêncio opressor em uma lembrança ativa e amorosa. Porque é permitido sentir alegria e a saudade ao mesmo tempo.
A dor é minha, e ela é válida. Tentar seguir é a minha única opção, mas não preciso seguir fingindo que a pessoa mais importante que se foi não existiu. O amor que eu sinto pelos que se foram não diminui o amor pelos que estão aqui.
E falando em minhas filhas, devo dizer que minha caçula que é o meu brilhante, que por ser exatamente como ela é, me permitiu por anos dedicar a médicos e viagens necessárias, sem cobranças. Desde criança já era a adulta da casa. E de coração desejo que nada disto tenha sido pesado demais para ela. Te amo demaisss!
O maior presente que posso dar às minhas filhas é mostrar que é possível amar e lembrar, mesmo com o coração quebrado.
Muito lindo e verdadeiro, vc sempre esteve presente, seu colo sempre nos trouxe segurança e alento! TE AMO!
ResponderExcluirPerfeita reflexão!
ResponderExcluir💖💖💖💖
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